sábado, 15 de outubro de 2011

Eu agora tenho um bebe. 50 cm de gente que se tornaram o centro do meu mundo. Vejo-o tão frágil, desamparado, amoroso e derreto-me a cada olhar. Penso no futuro, no que fará dele, no grande homem em que eu o vejo, no sucesso e felicidade que lhe desejo. Esta é a minha realidade agora. Mas a matéria de que são feitos os sonhos, é feita tambem de questões. Umas importantes, tipo que mundo estou eu a deixar para o meu filho, outras mais parvas, mas se calhar também pertinentes: Será que o pai do Hitler, ou do Pol Pot, ou do Bukassa, também olhavam para eles assim? Não foram eles também bebes amorosos, queridos, tão cutchi cutchi...e depois pimbas. Ora bolas, todos os psicopatas, assassinos, torturadores, genocidas e cabrões de toda a espécie tiveram também um dia alguem que olhou para eles como se fossem o centro do mundo enquanto os apertava nos braços..claro que se pode dizer o mesmo dos santos, dos mártires, dos heróis e dos abnegados. o que leva umas pessoas a darem tudo e outras a tirarem tudo? O meio em que cresceram, a sociedade em que se desenvolvem, o ambiente familiar, um cérebro marado? Tudo ao mesmo tempo, uma combinação de factores? Sei que por vezes, mesmo quando as hipóteses são contra nós, pudemos mesmo assim crescer com honra e rectidão. Há muito tempo atrás, em plena guerra do Iraque, parava à porta do Hotel Palestina uma menina dos seus 6 anos, andrajosa, ranhosa, só. Provavelmente orfã, ou perdida ou abandonada, quem puderia sabe-lo no meio de toda aquela confusão. dava-se-lhe comida, uma ou outra festa na cabeça e lá iam as consciencias ficando consoladas. Mas a história aqui é outra:  Uma vez, à saida do hotel perdi um molho imenso de dinares. Milhões deles que valiam para ai 100 dólares, mas que naquele tempo e lugar, puderiam ser uma fortuna. Perdi ali, no meio da rua, onde parava toda uma quantidade de gente fugida da guerra, que procurava a proteção possivel junto dos hoteis onde se abrigavam os jornalistas, e quem sabe algum resto de comida e abrigo.Quando dei por falta do dinheiro fiquei logicamente lixado, procurei um pouco e pensei "que se lixe, aqui neste sitio quem encontrou já guardou de certeza"..Afinal, a quem não tem nada, quase tudo se perdoa não é verdade? Mas então senti um puxão na camisola. Olhei para baixo e lá estava a miuda, olhos brilhantes e sorriso imenso. Na mãozita o dinheiro que me estendia. Naquele dia, naquele momento, de uma criança que nada tinha, aprendi uma importante lição. Há sempre quem valha a pena e nos faça acreditar. Afinal há esperança para nós. É esta a nossa maior força, quanto piores as circustancias. E assim, quando olho para o meu bebe continuo a ver o Homem Grande que eu quero que ele seja. Por muito mau, dificil e lixado que seja o mundo. Porque é ai que se revela omelhor de nós.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Na maternidade, um qualquer doutor, daqueles de hospital privado, que vivem com dificuldades portanto (para quem seja mais lento, isto foi mesmo ironia..) , queixava-se do estado das coisas e atribuia a culpa aos suspeitos do costume: os jornalistas pois claro. Eu, jornalista e neto de médico João Semana, daqueles que calcorreava a serra a pé para ver doentes, era pago em ovos e galinhas, nunca se queixou e nunca se negou, senti a mostarda a subir ao nariz (talves dos nervos do filhote a chegar..). Interpelei-o em termos suaves: "não acha que é um pouco injusto generalizar? afinal há maus jornalistas como maus médico ou maus canalizadores..". A resposta dele revelou a raça do animal: "generalizar nada, eu sou mesmo assim, radical. É o que eu penso e mais nada". Olhei para ele pensando cá para mim que deveria ter muito que se queixar da vida, coitado, com o seu mísero ordenado, T1 nos suburbios e 2 horas diária de autocarro, para além da sopita ao jantar que isto não está tempo para grandes gastos (atenção, isto também foi ironia..) e disse-lhe suavemente: "sabe a alternativa ao jornalismo, bom e mau, é não haver jornalismo de todo. Existem alguns exemplos de países assim, tipo a Coreia do Norte, o que o Dr. acharia de viver num País desses? não acha que aqui, mesmo assim, sempre é melhor?". A resposta dele desarmou-me de vez  - "se calhar lá são muito mais felizes". Olhei para ele, para o relógio de marca, os sapatinhos de 200 euros, as unhas tratadas e não consegui evitar rir-me. Disse-lhe só que então deveria experimentar ir viver para lá. nem lhe dei tempo para mais conversas. Não se argumenta com a estupidez e bem dizia o meu avô "qualquer burro carregado de livros pode ser um doutor".

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Agradeço antecipadamente a todos os que se decidiram a ser meus seguidores aqui. Normalmente o que é escrito neste blog é linkado ao facebook, e assim as pessoas não sentem a necessidade de cá vir espreitar de vez em quando. Mas eu gosto de pensar neste blog de um modo autónomo. Sei lá, três meia volta chateio-me com o tal de facebook e este é de facto o meu espaço. Este e o site, direccionado para as imagens como o blog para os textos (sempre em português "arcaico", que eu não adiro a modernices ortográficas..). Não sendo um escritor / redactor, gosto de alinhavar umas frases de quando em vez, mesmo porque há estórias guardadas na minha memória que eu gosto de recordar e conta-las assim, é uma forma de elas renascerem na minha vida uma vez mais. E partilhar com quem gosto.
Obrigado a todos.

  A humanidade já passou por muitas ameaças - não poucas das quais, iguais à que enfrentamos hoje. Epidemias e pandemias são recorrentes na ...