Não, nem tudo está perdido. Enquanto houver gente de bem, nem tudo está perdido - há muito tempo atrás, engolido por uma multidão algures em Kabul (Afeganistão), fui ao chão e perdi a máquina. Levantei-me quase em pânico, até ver a máquina no ar, na mão de uma velha senhora que me sorria. Ali, no fim do mundo, ainda havia gente de bem. O tempo passou e eu também. Aos poucos a deixar de acreditar outra vez. Mas são os pequenos (grandes) gestos que nos redimem sempre, não é? Hoje deixei o telefone no metro. Quando me apercebi, já cá fora, corri à cabine onde está aquela malta que lá trabalha, em busca de auxilio - "não podemos fazer nada agora, tente apanhar o metro no regresso"!!.. quando perguntei se não podiam contactar o maquinista, não, não podiam.."e se fosse uma bomba", perguntei - não mesmo assim não podiam...estupefacto corri, a ver se apanhava o metro no regresso. E de facto apanhei. Percorri tudo, procurei tudo - nada de telefone. No meio daquilo um rapaz dos seus vinte e poucos, pergunta-me se quero que ligue para o meu numero - "quero sim, obrigado". Mas nada. Já conformado, saio na estação seguinte, subo os degraus, com o humor da meteorologia de hoje, e eis que uma senhora que também vinha no metro me interpela - "sabe, acho que aquele rapaz descobriu o seu telefone.." peço-lhe o dela, ligo para o meu e eis que ele atende. Que sim, que o tinha encontrado, que vinha ter comigo para me o dar. E assim foi. Sem me conhecer de lado nenhum, sem obrigação, deu-se ao trabalho. Porque sim. Porque é um homem de bem. Obrigado Zé Aires. Quanto aos senhores do metro, só espero que de facto nunca ninguem lhes peça para ligar ao maquinista por causa de uma bomba...
first they came for the journalists and I did not speak out, because I was not a journalist. we don’t know what happened after that.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
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