sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Pois que sim o Amor existe. Estava ali, mesmo à minha frente, sempre que o Pedro olhava para a Ana e a Ana para o Pedro, olhos nos olhos e mãos que não se largaram nunca. O Pedro tem 39 anos e a Ana 41. Há pouco mais de quatro a Ana teve uma complicação cirúrgica e um AVC, que a deixou parcialmente incapacitada e com grandes dificuldades de comunicação. O problema da Ana já vinha de trás, estava diagnosticado, era tudo uma questão de tempo até o inevitável acontecer. Era uma bomba relógio à espera de rebentar, conta o Pedro serenamente, olhar límpido. Sabiam e mesmo assim avançaram, casaram, partilharam vida e futuro incerto. E ali continuam, juntos, sem hesitar, apesar da cadeira de rodas, do falar hesitante, das terapias permanentes e demoradas, das dificuldades inerentes a uma vida em comum em que um dos elementos é completamente dependente do outro.  Apesar da juventude, sinónimo tantas vezes de impaciência e egoísmo e procura do prazer. Apesar da dor, da incerteza, do medo do futuro, das mil limitações, das muitas frustrações. Apesar de tudo e de nada. O Pedro e a Ana acreditam em Deus, mas não na (in)justiça cósmica, que um lapso de linguagem (ou um subconsciente atento) transformou em cómica. O Pedro e a Ana são escuteiros, que às vezes, na brincadeira, carregam a Ana como um andor de nossa senhora, enquanto ela ri e entoa avés.  Agora a Ana já dorme na tenda contam com orgulho, o orgulho das pequenas vitórias, que para alguns são enormes como a vida.  Pois que sim, pode-se afirmar sem pingo de dúvida que  o Amor existe. Percebemos isso quando o Pedro, sempre de mãos dadas e olhos nos olhos com a Ana, diz ao mundo que não foi assim tão mau o que aconteceu. Podia ter sido muito pior, a Ana podia ter morrido e ele teria ficado sozinho. 

  A humanidade já passou por muitas ameaças - não poucas das quais, iguais à que enfrentamos hoje. Epidemias e pandemias são recorrentes na ...