sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

E pronto, mais umas divagações avulsas. Esta surgiu-me quando hoje tive que pagar portagem (esqueci-me que tinha combinado comigo próprio só viajar em nacionais..) e veio-me à memória um texto que li em tempos sobre o perigo de viajar nas estradas no séc XIX devido aos...salteadores! quere-me parecer que não mudou muita coisa entretanto. Roubado por roubado antes por profissionais certificados, de arma em punho e atitude a condizer, do que por gente que sofreu bullying a mais em pequenino, se é que me entendem. Palavra de honra que às vezes (muitas) fico fulo com isto e não entendo porque razão não se persegue até à exaustão  -  e aqui refiro-me à minha própria classe profissional,os jornalistas - quem nos f#$% sem sequer nos levar a jantar primeiro. Exemplo: um determinado ministério, onde o ministro reinante três meia volta se anda a pavonear de lambreta, adquiriu para uso da personagem um Audi A8 de muitos mil euros. WAF...não bastava um A4? Pronto, um A6? Não, tinha que ser um topo de gama, o mais caro, o mais não sei quê, porque sua exc, precisa de viajar em estilo. À pala dos outros claro. Não era de sair todos os dias na imprensa, tipo "dia 149, o ministro X continua a usar a viatura exorbitante, à custa da nação de papalvos, i.e. nós." Neste e noutros casos haviamos de ser como cães de fila, não largar até fazer sangue. Já agora recordo que na Alemanha, à conta daqueles submarinos, recordam-se, já foram feitas prisões. Aqui é mais pensões...harggggg, qa nervos..deve ser da crise. Para amenizar a coisa uma história sem ligação ao caso; quando nos idos de 2003 entrei no Iraque, por alturas da Guerra do Golfo, viajei a partir da Siria num táxi a cair de maduro, na tentativa de passar despercebido. A meio caminho, depois de muitas horas de percurso, embalado num sono profundo, sou acordado por uma grande algazarra e dou por mim com o cano negro de uma arma a apontar na minha direcção. Eu e os meus companheiros de viagem somos retirados do táxi e obrigados a ajoelhar, mãos na cabeça (percebem a ligação aos salteadores referidos acima?), rodeados por um bando de tipos barbudos, ar ocidental e actuação inequivoca de tropas especiais. E eram, mesmo, SAS australianos, os primeiros no terreno, ainda antes da guerra "oficial" começar. Depois de um interrogatório ligeiro, perceberam que não eramos ameaça e lá nos deixaram seguir. Percorridos poucos quilómetros, ainda espantados e aliviados com o que tinha acabado de acontecer, ainda a tentar perceber bem os aontecimentos, nova paragem, nova roda de gajos armados. Estes maltrapilhos, sandálias e Kalash, decididamente iraquianos, Aii e agora pensámos..será que nos viram com os outros e queriam tirar satisafações? Bom acontece que apenas queriam boleia para fugir dali. De modo que lá seguimos, o velho táxi transformado numa pinha humana de guerreiros de segunda em fuga e nós a pensar que mais iria acontecer. Aconteceu muita coisa, mas é matéria para outras histórias. Eu gosto de histórias, de ouvir e contar. O Natal para mim, tem sempre a memória de longas refeições à mesa, rodeado de quem se ama, embrenhado em histórias que nos fazem sonhar. Feliz Natal. Façam favor de ser felizes. Abaixo o sistema. Paz.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

                        QUE TE VAYA BIEN




Que tal uma tosta mista com creme de abacate? O mesmo que vai encontrar nas tortas (sandwiches em pão redondo), nas burritas (grandes tacos) ou em muitos outros petiscos. E se for massa de feijão preto a acompanhar o pequeno-almoço ranchero e tortillas de milho com quase tudo?

    É assim que se come no México, um país em que a gastronomia é tão rica, variada e imensa como a  sua História, a paisagem e as pessoas. O segredo está na originalidade da combinação de ingredientes e no espírito caliente dos mexicanos.



   A Praça Garibaldi, na Cidade do México, enche-se todos os fins-de-semana de gente que quer ouvir tocar os Mariachis. Estes, juntamente com os Nortenhos, os Jarochos e os Trovadores enchem de música e de cor um dos locais mais típicos no centro da grande capital. A maior do mundo.

   A esta praça chegam visitantes de todo o lado, atraídos pela fama dos artistas vestidos a rigor: os Nortenhos são verdadeiros cowboys e tocam acordeon, os Trovadores são conhecidos pelas suas baladas, os Jarochos, sempre de branco e vermelho,  dedilham versos malandros nas suas harpas e os Mariachis de Guadalajara  são de todos os mais famosos, nas suas figuras inconfundíveis, roupas justas negras e sombreros como manda a tradição.

   Para além do ouvido, outros sentidos são, ao final da tarde, despertados pela intensa actividade que se começa a viver nas esplanadas, restaurantes e bares da Garibaldi. Os aromas fortes da comida mexicana espalham-se pelo ar e misturam-se com os ritmos envolventes. Num dos cantos da praça deparamos com a entrada de uma galeria de restaurantes a lembrar a Feira Popular de Lisboa -  a simpatia dos que nos chamam é quase irresistível, mas a concorrência é grande e há que escolher.

   Depois de sentados em mesas corridas, lado a lado com estranhos que nos sorriem irmanados na causa do bem comer, podemos relaxar e refrescarmo-nos com uma Sol ou uma Corona (cervejas nacionais) acompanhada de lima. Os empregados afadigam-se para atender os pedidos que não param de chegar e enquanto espreitamos a ementa podemos observar as iguarias expostas por cima do balcão: lombo de vaca, cabeça de porco assada e cabritos inteiros - enfeitados pelo verde dos legumes e ervas aromáticas.

   Decidimo-nos por umas Quesadillas Verdes, crepes de massa de milho, dobrados e recheados de carne de porco, tomate e chile. À nossa frente alinham-se frascos de diversas salsas (molhos), mais ou menos picantes consoante o gosto, e cestinhos com Tortillas, o “pão” mexicano, feito à base de milho e água.

   A rematar não resistimos a uma tequilla reposada, originária da mesma região dos Mariachis. É a mais tradicional bebida mexicana, apesar de este país ser o segundo maior consumidor de coca-cola do mundo; mas isso é outra história.



Una tequilla, por favor




   “Para começar não tem verme  e se quando beber sentir que queima, é porque não é verdadeira tequilla” – diz-se sobre esta bebida, que é um tipo de mezcal. Pode ser blanca (engarrafada num prazo de 60 dias), dorada (semelhante mas de cor amarelada), reposado (com idade entre os dois meses e um ano) e anejo (de um a cinco anos).

   A tequilla é famosa e não só no México: nos primeiros quatro meses deste ano, as exportações desta aguardente aumentaram mais de 30 por cento; a subida foi tão fulminante que inclusive ultrapassou as do sólido sector cervejeiro.

   O mezcal (na origem da tequilla) surgiu com os  conquistadores espanhóis a partir de uma bebida dos aztecas – o pulque. É feito a partir de algumas das mais de 120 variedades da planta do agave, cozida em fornos debaixo da terra. É considerado afrodisíaco e diz-se que o verme que se encontra na garrafa dá força a quem tiver coragem de o comer.

   Não pense, no entanto, que por aqui só se bebem bebidas alcoólicas, pelo contrário, os mexicanos são fãs de refrescos e de sumos naturais. Estes encontram-se um pouco por todo o lado, desde as lojas da especialidade, onde se bebem sumos 100% genuínos, e preparados no momento com praticamente qualquer fruta que se possa imaginar, até aos vendedores ambulantes que passeiam os liquados (batidos) e as coloridas aguas de fruto (sumos naturais aguados), nos seus carrinhos ou em recipientes carregados às costas.

   A figura destes vendedores  é muito comum  nos centros urbanos, especialmente nas ruas junto aos mercados. Apregoam de tudo um pouco: rodelas de ananás, fatias de melancia, manga ou côco, panquecas, tacos (tortilhas enroladas e recheadas),  totopos (versão mexicana de batatas fritas, à base de milho) e até  misturas invulgares como cerveja com chile em pó... .

   Mergulhar nos coloridos mercados mexicanos é uma experiência obrigatória para o visitante  interessado na alma mais popular deste grande país.

Perto do zocalo (praça central) da Cidade do México, onde quase todos os dias se pode assistir ou participar em danças tradicionais aztecas, estende-se o labiríntico Tepito, um grande mercado onde ao longo de várias ruas, ruelas e passeios, se pode comprar roupa, discos e cassetes, armas e artigos militares, produtos desportivos, pornográficos, remédios caseiros, brinquedos, e, claro, comida e bebida. Tudo alegremente misturado e animado pela simpatia das gentes (os portugueses são especialmente apreciados) e pelos sons dos pregões, da música ranchera ou dos últimos êxitos europeus e americanos.        

   Mais característico ainda é o mercado de San Cristobal de Las Casas, uma cidade emblemática do Estado de Chiapas, no sudeste do México. É uma das regiões do país mais rica, mas onde a população é mais pobre.  Muitos são indígenas – choles, tojoobales, tzotziles e tzeltales, herdeiros da antiga cultura maia. Foi aqui que em 1994 nasceu o movimento zapatista, que defende os direitos dos índios, e que mantem até hoje uma situação de conflito com o governo federal.

   Por detrás do Largo da Igreja de Santo Domingo, começa a estender-se o mercado: primeiro a exposição e venda de artesanato, com destaque para as indías de  Sna Jolobil  (Casa das Tecedeiras em dialecto tzotzil), uma organização que representa cerca de 800 mulheres que se dedicam a bordar panos, mantas e colchas com técnicas e motivos tradicionais maias, onde predominam imagens de flores, animais, santos e deuses que velam pelo crescimento do milho e pela fertilidade da terra.


   Um pouco mais abaixo chegamos ao espaço dos produtos alimentares, onde se cruza gente de todas as pequenas comunidades em redor da cidade.  Vêm ao amanhecer, em camions (pequenas camionetas de caixa aberta onde pessoas e mercadorias se amontoam, de maneira impossível!), para venderem e comprarem tudo aquilo que a terra dá.

   Há mangas cor de mel e papaias do tamanho de melancias, meloas que aqui se chamam melons e limons que afinal são limas, bananas que são plátanos e jitomates que não passam de tomates, verdes ou vermelhos. Ainda cebolas descascadas, pimentos cortados, folhas de cacto comestivéis, peras-abacate, laranjas, calabazas (courgettes) e anonas sumarentas. O milho e o feijão estão omnipresentes, ou não fossem os dois ingredientes básicos da alimentação mexicana, tal como os muitos, muitos, chiles picantes.

   Depois de deambular ao longo de vários quarteirões, por esta “Feira do Relógio”*com sabor tropical, o visitante pode voltar ao centro da cidade. Atravessa o jardim do coreto, onde bandas saídas de um qualquer filme de Fellini tocam trechos supostamente típicos, lê um jornal local enquanto bebe uma margarita numa esplanada e deixa-se envolver pelo ambiente.



Temperos da História

  

   San Cristobal é uma pequena cidade colonial, de ruas lineares e casas pitorescas de cores vivas, com pátios e jardins interiores. Por todo o lado, em qualquer dos muitos bares, restaurantes, cibercafés, agências de viagens, hotéis, ou apenas na rua,     turistas em busca de ideais perdidos misturam-se com ladinos (brancos ou mestiços) e índios.

   Os indígenas vivem sobretudo do pequeno comércio de rua, da venda de pulseiras e cintos tecidos, mantas garridas e bonecos que representam Marcos e os seus companheiros do rebelde EZLN, Exército Zapatista de Libertação Nacional.     

   As mulheres  tzotzil vestem uma saia escura, que não é mais do que um grande pano de lã grossa enrolado à cintura. Completam a vestimenta com camisas de cor ou bordadas e entrelaçam fitas no cabelo negro, normalmente apanhado em tranças longas.

    A toda e qualquer hora, os camponeses bebem poson  (líquido de milho desfeito em água, que é também o primeiro alimento dos bébés, depois de deixarem o peito da mãe) e comem tortillas, preparadas diariamente .

   O ritual começa pela descamisada das espigas de milho, seguido da debulha. Os grãos são colocados de molho, em água com cal, para que a casca se solte facilmente quando o milho é lavado. Para as tortillas ficarem macias, os grãos são  moídos duas vezes para que a massa se torne mais fina; esta é reduzida a uma pequena bola que é prensada num instrumento próprio, muitas vezes rudimentar. No final, é aquecida e, às vezes, tostada, numa chapa de metal – sempre que se serve uma refeição.

   Para além do milho e do feijão, o café é a outra principal cultura em Chiapas, sendo acima de tudo   uma fonte de rendimento. Os mexicanos bebem cafe americano (fraco e servido numa grande chávena), mas nada comparável à bica portuguesa!

   Também o chocolate, antes de ser uma  guloseima internacional, fazia parte da alimentação quotidiana neste país da América Central. Uma bebida preparada com pó de cacau já era a preferida do imperador azteca Moctezuma. 

   O chocolate, o milho e o feijão fizeram parte dos primeiros produtos exportados do México para a Europa pelos conquistadores espanhóis – outro foi o chile que  Hernãn Cortez levou na sua primeira  viagem de regresso a Espanha. Estes alimentos, entre outros como o abacate, a batata e o tomate, mudaram os hábitos alimentares europeus.

   O intercâmbio da cultura alimentar fez-se nos dois sentidos enriquecendo também a tradicional cozinha mexicana, que remonta ao período pré-hispânico e às chamadas culturas do milho. As especiarias da Índia, o gado ovino e bovino, cereais como o arroz, e as azeitonas, foram alguns dos produtos levados para o país pelos colonizadores.

   Monjas vindas do velho continente abraçaram o melhor de ambas as gastronomias, contribuindo com o seu saber fazer para  a mescla de hábitos e sabores, influenciada ainda pelas migrações ocorridas no país, aquando da revolução de 1910. Os seguidores de Pancho Villa e de Emiliano Zapata (heróis nacionais), nas suas deslocações revolucionárias pelo país, proporcionaram aos mexicanos em geral o conhecimento de hábitos alimentares oriundos de outras regiões (o México tem 31 estados e um Distrito Federal).



Hey, gringo



   Foi desta mistura que surgiu aquilo que é hoje a cozinha mexicana, que se espalhou pelo mundo em versão tex-mex , um conceito falsamente atribuido à genuína culinária do México,  generalizado ao mundo através de filmes em que cow-boys rudes, de barba rija, comem “chile con carne” ao entardecer.   Este prato, principal símbolo da cultura tex-mex, é muito popular na fronteira norte do país com o Texas, EUA,  mas apenas aí.

   O conceito de gringo (nome que no México se dá aos norte-americanos) juntamente com a imagem do mexicano sonolento que dorme a siesta cobrindo a cabeça com um sombrero e a receita de feijão, com carne picada e especiarias, atravessaram fronteiras, aterrando em restaurantes pretensamente típicos, um pouco por toda a parte, incluindo Portugal. O tex-mex acaba assim por se tornar erradamente na imagem da cultura mexicana, redutora da imensa variedade do país, mas adaptável aos paladares e às sensibilidades dos outros.

   Elementos mais genuínos podem ser encontrados na comida e na decoração de uns poucos restaurantes mexicanos existentes no nosso país, nalguma música que se ouve por aí ou nos livros de Carlos Fuentes e Octávio Paz – “ O muro ao sol respira, vibra, ondula, pedaço de céu vivo e tatuado. O Homem bebe sol, é água, é terra.” 

   A cultura portuguesa também chega aos mexicanos através de nomes como os Madredeus, Fernando Pessoa e José Saramago. Ainda recentemente o Nobel português da Literatura foi recebido calorosamente no México, dando inclusive origem ao que o La Jornada (um dos principais títulos da imprensa nacional) chamou de “Saramagomania”. 

   Infelizmente a gastronomia lusa é que não encontra eco nas mesas mexicanas, excepção feita às refeições servidas na embaixada portuguesa onde o bacalhau é rei. Se um dia, passeando lá por uma qualquer rua, se deparar com uma ementa á porta de um restaurante que apregoa “Lombo à portuguesa”, desconfie!

   Entre nós ainda  são as “tequillas bum-bum” e as “margaritas” que fazem mais sucesso mas, apesar do nome, não vai encontrar estas bebidas na “Pastelaria Mexicana”, em Lisboa – é que o baptismo deste estabelecimento nasceu de um equívoco. Em 1946, data em que abriu, o local onde se encontra era vulgarmente conhecido por Praça do México. Por qualquer razão, alegadamente diplomática, desconhecida até dos serviço de Toponímia da Camâra de Lisboa, o nome em 1948 passou a ser Praça de Londres. No entanto, ali perto continua a existir a Av. do México.

   São pequenos sinais a lembrar uma grande nação: banhada por dois oceanos, o Pacífico e o Atlântico,   com uma fronteira de mais de  3 000 km, só com os EUA, desertos áridos, altas montanhas e selva tropical. O 11º país mais povoado do mundo tem quase 100 milhões de habitantes. Um décimo da população é indígena, distribuida por 56 etnias diferentes.  

    Como é que sentimentos tão diferentes podem ser expressos numa só frase? Através da voz da selva, respondem-me, do rugido dos oceanos e do silêncio do deserto, da alma das gentes. É assim o México.                                                               

  




terça-feira, 1 de novembro de 2011

Chove lá fora. Eu cá gosto de chuva. E de frio. Lembram-me cobertores confortáveis, lareiras com garrafas de aguardente velha e camisolas de gola alta. Também me lembram outras coisas. Invernos que foram infernos, em paragens longínquas, e outros mais prazerosos. E como memórias são memórias lembro-me também de um tempo em que ser fotógrafo não me bastava, queria ser fotojornalista, daqueles à Dom Quixote, lutar contra moinhos de vento, mudar o  mundo. Armado de camera e convição, vestir-me de causas, ser os olhos do mundo onde o mundo não podia chegar. E durante muito tempo acreditei, lutei, persisti. Por causa dessa vontade fui batido, roubado, raptado, apontado e nada me faria desistir. Nada a não ser a vida. Um dia, já nem sei porquê deixei de acreditar. Achei que o mundo e os homens não tinham emenda e resignei-me. Que se lixe, pensei. Comecei a trabalhar apenas para ganhar a vida e com isso o prazer esvaiu-se. Fotografar passou a ser um acto mecanico, rotineiro, às vezes até envergonhado (eu, que amava fotografar acima de todas as coisas..). Mas então o Angelo nasceu. O meu filho para quem eu tinha sonhado mil histórias  que lhe contaria e que teriam em comum o facto de serem todas verdade. Histórias que eu tinha vivido, histórias que tinham feito do mundo dele um lugar melhor. E percebi que isso não seria possivel, as histórias não passavam disso mesmo,  o mundo que eu tinha para ele não prestava e eu afinal não tinha mudado uma virgula.. 
Olhem em volta, mas que raio se passa aqui? Olhem em redor e digam-me que não se sentem indignados? Ainda não se cansaram de ser roubados, gozados, explorados, por uma corja de bandidos bem falantes e bem vestidos que vos mentem semprem que abrem a boca? Alguem me explica porque tenho eu que pagar impostos que sustentam vilanagens e estilos de vida que eu não posso ter? Alguém percebe qual a necessidade de se lucrar biliões, triliões, o raio que parta ões, o lucro pelo lucro, pelo lucro, sem moral, sem face, sem piedade. Qual é o sentido de velhos a morrerem sózinhos e indignamente porque uma merda de um empresa qualquer, ou de um Estado qualquer, ainda não percebeu que o importante são as pessoas...
Eu conheço uma história de um casal, numa aldeia. Simples, humildes, apaixonados, decidem casar, ter um filho, viver em paz, com pouco que não precisavam de muito. Ele trabalhava, talvez como motorista, ela cuidava da casa e do filho. O pouco dinheiro, bem esticado, deu para a aventura de comprar uma casa, a sua casa. Mas então o acidente, a invalidez, o interminável labirinto das seguradoras megalómanas e cegas para os pobres e os humildes, o fim da assistência social que só não termina as reformas milionárias e escabrosas de uns quantos iluminados e pronto, o sonho morreu - não tardou que o fisco, o banco, uma pôrra dessas, lhes tirasse a casa suada e esforçada e os lançasse na rua. Valeu a caridade de uma vizinha onde vivem até hoje.  A casa, essa lá continua, a cair, porque ninguém, numa espécie de justiça cósmica, a quis comprar. Mas casos destes,todos conhecemos, não é verdade? Indignamos, vociferamos, escrevemos umas coisas no Facebook, às vezes (cada vez mais, é verdade) fazemos uma manifestações e a vida lá continua. Igual. Pior. Mas ainda não basta?
Um Homem tem que ter direito à sua imagem no espelho, dizia o poeta. O meu filho tem que se orgulhar de mim, digo eu. O nosso, e sublinho NOSSO, mundo, é aquilo que fazemos dele. Raios, eu até tenho as armas - as cameras, os olhos, a vontade - e como eu muitos outros. Mas andamos distraidos não é verdade. E depois já vai ser tarde.
A luta continua. Afinal eu ainda acredito.

sábado, 15 de outubro de 2011

Eu agora tenho um bebe. 50 cm de gente que se tornaram o centro do meu mundo. Vejo-o tão frágil, desamparado, amoroso e derreto-me a cada olhar. Penso no futuro, no que fará dele, no grande homem em que eu o vejo, no sucesso e felicidade que lhe desejo. Esta é a minha realidade agora. Mas a matéria de que são feitos os sonhos, é feita tambem de questões. Umas importantes, tipo que mundo estou eu a deixar para o meu filho, outras mais parvas, mas se calhar também pertinentes: Será que o pai do Hitler, ou do Pol Pot, ou do Bukassa, também olhavam para eles assim? Não foram eles também bebes amorosos, queridos, tão cutchi cutchi...e depois pimbas. Ora bolas, todos os psicopatas, assassinos, torturadores, genocidas e cabrões de toda a espécie tiveram também um dia alguem que olhou para eles como se fossem o centro do mundo enquanto os apertava nos braços..claro que se pode dizer o mesmo dos santos, dos mártires, dos heróis e dos abnegados. o que leva umas pessoas a darem tudo e outras a tirarem tudo? O meio em que cresceram, a sociedade em que se desenvolvem, o ambiente familiar, um cérebro marado? Tudo ao mesmo tempo, uma combinação de factores? Sei que por vezes, mesmo quando as hipóteses são contra nós, pudemos mesmo assim crescer com honra e rectidão. Há muito tempo atrás, em plena guerra do Iraque, parava à porta do Hotel Palestina uma menina dos seus 6 anos, andrajosa, ranhosa, só. Provavelmente orfã, ou perdida ou abandonada, quem puderia sabe-lo no meio de toda aquela confusão. dava-se-lhe comida, uma ou outra festa na cabeça e lá iam as consciencias ficando consoladas. Mas a história aqui é outra:  Uma vez, à saida do hotel perdi um molho imenso de dinares. Milhões deles que valiam para ai 100 dólares, mas que naquele tempo e lugar, puderiam ser uma fortuna. Perdi ali, no meio da rua, onde parava toda uma quantidade de gente fugida da guerra, que procurava a proteção possivel junto dos hoteis onde se abrigavam os jornalistas, e quem sabe algum resto de comida e abrigo.Quando dei por falta do dinheiro fiquei logicamente lixado, procurei um pouco e pensei "que se lixe, aqui neste sitio quem encontrou já guardou de certeza"..Afinal, a quem não tem nada, quase tudo se perdoa não é verdade? Mas então senti um puxão na camisola. Olhei para baixo e lá estava a miuda, olhos brilhantes e sorriso imenso. Na mãozita o dinheiro que me estendia. Naquele dia, naquele momento, de uma criança que nada tinha, aprendi uma importante lição. Há sempre quem valha a pena e nos faça acreditar. Afinal há esperança para nós. É esta a nossa maior força, quanto piores as circustancias. E assim, quando olho para o meu bebe continuo a ver o Homem Grande que eu quero que ele seja. Por muito mau, dificil e lixado que seja o mundo. Porque é ai que se revela omelhor de nós.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Na maternidade, um qualquer doutor, daqueles de hospital privado, que vivem com dificuldades portanto (para quem seja mais lento, isto foi mesmo ironia..) , queixava-se do estado das coisas e atribuia a culpa aos suspeitos do costume: os jornalistas pois claro. Eu, jornalista e neto de médico João Semana, daqueles que calcorreava a serra a pé para ver doentes, era pago em ovos e galinhas, nunca se queixou e nunca se negou, senti a mostarda a subir ao nariz (talves dos nervos do filhote a chegar..). Interpelei-o em termos suaves: "não acha que é um pouco injusto generalizar? afinal há maus jornalistas como maus médico ou maus canalizadores..". A resposta dele revelou a raça do animal: "generalizar nada, eu sou mesmo assim, radical. É o que eu penso e mais nada". Olhei para ele pensando cá para mim que deveria ter muito que se queixar da vida, coitado, com o seu mísero ordenado, T1 nos suburbios e 2 horas diária de autocarro, para além da sopita ao jantar que isto não está tempo para grandes gastos (atenção, isto também foi ironia..) e disse-lhe suavemente: "sabe a alternativa ao jornalismo, bom e mau, é não haver jornalismo de todo. Existem alguns exemplos de países assim, tipo a Coreia do Norte, o que o Dr. acharia de viver num País desses? não acha que aqui, mesmo assim, sempre é melhor?". A resposta dele desarmou-me de vez  - "se calhar lá são muito mais felizes". Olhei para ele, para o relógio de marca, os sapatinhos de 200 euros, as unhas tratadas e não consegui evitar rir-me. Disse-lhe só que então deveria experimentar ir viver para lá. nem lhe dei tempo para mais conversas. Não se argumenta com a estupidez e bem dizia o meu avô "qualquer burro carregado de livros pode ser um doutor".

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Agradeço antecipadamente a todos os que se decidiram a ser meus seguidores aqui. Normalmente o que é escrito neste blog é linkado ao facebook, e assim as pessoas não sentem a necessidade de cá vir espreitar de vez em quando. Mas eu gosto de pensar neste blog de um modo autónomo. Sei lá, três meia volta chateio-me com o tal de facebook e este é de facto o meu espaço. Este e o site, direccionado para as imagens como o blog para os textos (sempre em português "arcaico", que eu não adiro a modernices ortográficas..). Não sendo um escritor / redactor, gosto de alinhavar umas frases de quando em vez, mesmo porque há estórias guardadas na minha memória que eu gosto de recordar e conta-las assim, é uma forma de elas renascerem na minha vida uma vez mais. E partilhar com quem gosto.
Obrigado a todos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Estórias 2 / Cair do pedestal

Bagdad, meados de Abril de 2003  - soprava um vento quente e poirento, de mau agoiro, na capital devastada, por aqueles dias e nos hoteis,, onde a "press" se acumulava, aguardava-se em expectativa o próximo movimento das partes em contenda. Praticamente todos os iraquianos tinham desaparecido da zona, deixando-nos em auto gestão e, pela parte que me toca, com uma estadia gratuita no Sheraton. Os americanos estavam ali, ao virar da esquina, e com todas as noticias de pilhagens e anarquia generalizada entre a população, não faltava quem rezasse pela sua chegada. Eu havia dias que percorria a cidade, num discreto jipe encarnado vivo, decorado com uma gigante bandeira francesa e conduzido por um ex-major legionário, um louco meio soldado, meio editor de uma suposta revista de assuntos militares, mas que sabia como ninguém os procedimentos correctos para nos deslocarmos em terreno tão perigoso. Com ele vivi várias histórias entre o horror e o humor, mas essas ficam para outras prosas. Esta é sobre uma estátua. Uma estátua gigante de um ditador de bigodes, de nome Saddam Hussein, bem no meio da Praça do Paraíso, ali a dois passos dos hotéis.
No dia em que finalmente os camuflados americanos deram entrada no que é hoje a Zona Verde, formou-se um circo mediático à sua volta (relembro que estavam pelo menos 500 jornalistas ali ao lado, sem contar com os que vinham embeed..) que teve o seu apogeu no derrubar da estátua citada - o momento que simboliza a queda do regime e o fim da guerra oficial, imortalizado em fotos e videos de todo o mundo e em que este vosso humilde escriba teve (pasmem agora) um papel fundamental. Pois é, esta vocês não sabiam, pois não? Vá, eu conto: durante a manhã já um monte de iraquianos, liderados pelo Schwarzenegger local, tinham tentado tudo, de chinelada a marretada, para derrubar o Saddam de bronze, que nem buliu. Finalmente derrotados viram-se obrigados a pedir ajuda ao US Army, que não se fez rogado e  avançou um monstro de aço, meio tanque, meio escavadora para tomar conta da tarefa. 1º filme: todos os fotógrafos e cameras pensaram que o melhor local para captar imagens seria precisamente em cima da coisa e num instante pimba: 50 jornalistas acumulados lá no alto. Não foi preciso muito para que o comandante do veículo corresse com toda a gente. Esqueceu-se de um pormenor - os portugueses. expeditos, eu e o Nuno Patricio, o camera da RTP, demos a volta e subimos pelo outro lado. Ao ver-nos de novo o jovem tenente só foi capaz de se rir. Tinhamos ganho aquele round.
2º filme: os americas decidiram enrolar uma bandeira iraquiana em redor da cabeça do Saddam, talvez para aumentar o simbolismo da situação. Mas foi aqui que o ambiente mudou. Os locais ali presentes pararam a festa e ficaram numa atitude tensa, com sobrolhos carregados. Sem reparar os militares continuaram a puxar a estátua. De repente eis que alguém me chama. Olho para baixo e vejo dois iraquianos que eu conhecia do meu hotel, onde eram funcionários. De um até me tinha tornado mais ou menos amigo e tido, pelo menos até desaparecer com todos os outros, algumas conversas interessantes. Mas agora reaparecia ali, naquele momento de grande drama e logo a procurar por mim. Percebi que era grave pela sua agitação e aproximei-me da borda do veículo para perceber o que queria. era mais o que não queria. ele e todos os outros - não queriam a sua bandeira no chão, arrastada pelos americas e pelo ditador odiado. Apressei-me a fazer chegar a mensagem ao tenente, antes que fosse tarde. Percebeu de imediato e tomou providências para tirar a bandeira. A festa voltou. Eu tornei me alvo de olhares reconhecidos e palavras de gratidão. Por um momento fiz parte da História,

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Estórias 1

Às vezes lembram-me estórias de coisas passadas. Coisas que eu já quase nem acredito que vivi, apenas as fotos envelhecidas a ligarem-nas à (minha) realidade. Dizem-me que devia passa-las a livro. Talvez. Talvez um dia. Por enquanto vou lembrando-as aqui e ali, ao sabor das memórias que surgem sem aviso. Como aquele voo entre Nairobi e as montanhas Nuba, bem no coração do Sudão. Vindo do Sul desse país, então ainda dividido "apenas" por uma guerra civil longa de 40 anos, depois de duas semanas duras entre os rebeldes do SPLM, descansava agora na penumbra do meu quarto confortável, num dos melhores hotéis da capital queniana, enquanto pensava em ir ao Norte sudanês em busca da outra metade da reportagem planeada. Mas o destino tinha outros planos. Logo nessa noite o encontro com uma das personagens mais extraordinárias e intensas da minha vida, levou-me a alterar planos feitos cuidadosamente e a embarcar numa aventura diferente. Malcolm Max Cassis, bispo católico, originário das Nuba, o território mais isolado do planeta, queria lá ir passar o Natal com um avião carregado de presentes – comida, medicamentos e alfaias agrícolas. E convidou-me. E eu aceitei. Dois dias depois, embarquei no voo da minha vida – horas esquecidas, num DC-3 com 50 anos, piloto colombiano e GPS colado com fita-cola ao tejadilho, num voejo proibido sobre território inimigo e com consequências imprevisíveis. O velho avião estremecia e roncava e fumegava, arrastando-se penosamente em direcção ao seu destino longínquo, enquanto o bispo Cassis, imperturbável, rezava o terço, sentado na única cadeira destinada aos passageiros. Eu esparramado em cima de caixas de medicamentos, só pensava na possibilidade de encontrarmos a força aérea norte-sudanesa de mau humor. Mas não. Após muito, mas muito tempo, a nossa passarola lá começa a descer. No horizonte desenhava-se o contorno maçico da grande cadeia montanhosa das Nuba. A aterrissagem decorreu com a calma relativa de um pato de 40 quilos a pousar num alguidar com água, mas depois de 5 minutos de saltos e ressaltos e imprecações e coisas pelo ar lá parámos. Ufffas, palmas de alivio, parabéns e palmadas nas costas, a salvo finalmente. Seria? Não. Pelo escotilha redonda espiei uma quantidade de gente fardada a correr em direcção a nós, a brandir armas e a gritar. “Que amigáveis, vem-nos saudar mesmo efusivamente”, ainda pensei, antes de ouvir os primeiros disparos. Mas só quando o nosso piloto colombiano, em versão rally, pôs o velho Dakota a fazer um pião e a acelerar o mais rápido que podia pista fora é que eu percebi – tínhamos aterrado no lado errado da montanha, no aeródromo controlado pelas forças governamentais. A nossa retirada muito pouco digna, acompanhada de muito tiroteio, sorrisos amarelos e ainda mais imprecações foi em tudo ignorada pelo bispo, que nem um bocejo se dignou a fazer. Apenas passados uns minutos, já bem alto e longe do perigo, olhou para mim mansamente, fez o sorriso mais aberto do mundo e disse: “bem vindo à minha t
erra”.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Embarco para a Madeira. Já passei pelos aeroportos, e controles respectivos, dos sitios mais marados do mundo, já me revistaram enquanto me apontaram armas, já me ameaçaram, insinuaram, insultaram, já me tentaram roubar, extorquir, cilindrar...faz parte do encanto das viagens, o imprevisto, a aventura, o inesperado, o cheirinho a perigo...mas para a Madeira Senhor. rapazinhos e rapazinhas da Securitas, uniforme amarelo a condizer com o sorriso e a cara de pau, pequeno poder em acção, muita frustração reprimida - "este frasco tem 125 ml, e só pode levar até 100 ml..." bem tento argumentar que o raio do frasco está praticamente vazio (vê-se, é transparente..) que é só after-shave, pode cheirar, usar...nada. imperturbável na sua acção de evitar a entrada de perigosos terroristas armados de perfumaria, no avião com o destino sempre delicado e perigoso do Funchal, ainda acrescenta - "e este também não". Este é um creme para a barba, como se sabe material muito usado no fabrico de bombas. A Madeira é um potencial alvo para atentados, todos sabemos. Todos os anos, milhares de turistas de camisa às flores e after-shaves explosivos tentam sabotar o Carnaval do João. Calhei eu na rifa. Não há argumento que resista à imbecilidade demolidora de quem só cumpre ordens sem questionar. E lá voltei eu para trás, despachei o saquinho de mão no porão e voltei para a fila, agora 20 minutos maior, para de novo ser revistado e controlado, pela mesmissima figura, quem nem um sorriso de ironia conseguiu fazer. Hargggggggggggggggggg 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Fotografo a fachada de uma casa, no meio de nenhures, onde um gajo se barricou. É noite escura, o homem há muito que foi levado pela policia, ninguem na rua. Tiro uma foto e eis que aparece um vizinho daqueles..."que é que está a fotografar" pergunta, sem sequer um boa noite.."a casa que está à minha frente", respondo. "porquê?", pergunta. Já a ficar chateado, mas ainda a tentar manter a calma, respondo - "porque houve alguem que se barricou aqui à tarde, e isso é noticia para jornal." Ai começou a disparatar: porque não tenho mais nada para fazer, porque não tenho nada que ali andar, que não tenho autorização,  que não posso fazer aquilo e por ai diante. Ainda lhe tento argumentar que é só uma fachada, que estou na via pública, que estou a fazer o meu trabalho, que cumpro ordens, mas não adianta de nada. Perante o crescendo de exaltação do homem aconselho-o a chamar a policia, ou em alternativa a ligar para o meu editor. Nem liga e remata o argumento final - "e se aparecesse alguem que lhe desse um murro na cabeça?". Foi ai que baixei a máquina, lembrei-me dos anos metido no cu do inferno a fotografar gajos que comem imbecis deste ao pequeno almoço e respondi-lhe, juro que com toda a calma do mundo - "bom, nesse caso teria que lhe dar uns murros de volta". Olhou para mim, creio que atentamente pela primeira vez, abriu e fechou a boca algumas vezes e percebeu que a partir dali só lhe restavam duas opções. Decidiu-se pela retirada estratégica. Pelo caminho ainda foi a resmungar, mas só em surdina. A conclusão é muito simples e eu já há muito que a sei - as pessoas em geral só gostam de jornalistas quando lhes convèm. De resto não passam de uns intrometidos abelhudos que convem abater sempre que possivel. Democra quê?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011


“O Bug”

Algo está errado. No mundo, na vida, nas pessoas, eu sei lá. Mas algo está mesmo muito errado. O mundo não acabou e eu não vi o bug (mas que ele existe, existe) e para falar francamente também não vi mais nada de especialmente invulgar para além do que é  normal numa passagem de ano. Ainda esperei que aparecessem uns personagens de branco e longas barbas a apregoar o fim dos tempos mas não. Nem sequer uma avaria no telefone, ou um contacto com extra terrestes, ou neve no Alentejo. Nada a anunciar que a partir de agora iria ser tudo melhor, ou pior, ou diferente.  Tudo normal. Tudo igual a si próprio.
 E assim entramos no 2000 como saímos de 1999, com os mesmos problemas, as mesmas angústias e as mesmas esperanças. No fundo, se bem que já soubesse que iria ser assim, alimentava a secreta esperança  que de repente, por obra e graça de uma qualquer entidade divina, o mundo passasse a ser um lugar diferente, talvez sem impunidade e sem miséria.
 Em Lisboa moro perto de um local tristemente célebre conhecido pelo nome de Casal Ventoso. Todos os dias dezenas de milhares de contos são ali gerados através do sacrifício de milhares de seres humanos. As suas  vidas desperdiçadas alimentam gordas contas bancárias que são movimentadas por traficantes, políticos, polícias, militares, comerciantes, banqueiros  e até religiosos. Todos os dias a minha rua é percorrida nos dois sentidos, para baixo os que se vão fornecer, para cima os que já vêem aviados,  por estas almas andrajosas e perdidas, consumidas pela droga. Todos os dias ambulâncias passam em busca daqueles que sucumbiram ao seu poder. Sempre que uma ambulância passa há um cão, algures na rua, que uiva pressentindo a morte e a miséria.
 O tráfico é feito ás claras, com filas á porta dos dealers e pregoeiros que cantam as virtudes do seu produto. Dia e noite. Aqui e ali corpos jogados ao abandono e outros que para lá caminham faltando apenas encontrar a veia certa. Ou possível. O negócio é tão bom que alguns moradores do bairro alugam as casas aos dealers por quantias astronómicas. E para quem não conheça a zona sempre poderei dizer que as casas de um modo geral estão tão degradadas que não se distinguem das barracas que as rodeiam.
 Um dia deambulando por ali (faço-o sempre que preciso de “uma dose” de realidade ou sempre que começo a ver o mundo demasiado cor-de-rosa) ao virar a esquina ao fundo da minha rua, o que dá acesso ao Casal Ventoso propriamente dito, sou subitamente confrontado com uma visão dantesca; Qual filme de horror dezenas daquelas figuras condenadas vinham direitas a mim, sujas, miseráveis, trôpegas, empurradas por uma qualquer força que eu não conseguia entender, ocupando a rua toda, de lado a lado. A custo, depois de conseguir passar por eles, percebi. Uma rusga policial.
De vez em quando a policia vai por ali abaixo, fechando as vias de acesso e tentando mostrar serviço. Muito tempo antes de eles lá chegarem já os dealers avisados tomaram as suas precauções, fechando-se atrás de grossas portas chapeadas a aço, escondendo as provas do seu crime. O sistema de vigilância da zona é infalível e os vigias são pagos, em dinheiro ou “géneros”, a cerca de 30 contos por dia. Quando se ouvem os “uga”, “uga”(abreviatura de fuga) toda a gente em situação comprometedora desaparece no emaranhado labiríntico de ruas e ruelas ficando apenas os desgraçados mortos-vivos sem forças ou vontade para correrias. Esses, como aqueles que eu tinha visto, são escorraçados para fora da zona central do bairro, onde a maior parte da “actividade comercial” se dá, ficando á espera na periferia que a polícia se vá embora. Depois volta tudo á mesma.
Certo, eu sei que o nosso sistema legal (como os outros) têm algumas condicionantes, que as coisas não podem ser feitas de qualquer maneira, que não se pode simplesmente entrar por ali e prender toda a gente. È necessária prova, flagrante delito, eu sei lá. Também sei que por vezes os policias, talvez frustrados pela inutilidade dos seus esforços, se limitam a chatear toda a gente que lhes aparece, tenha ou não a ver com o assunto, e até a dar umas ocasionais porradas... 
Por outro lado acabar com o Casal Ventoso equivalia a perder de vista  os traficantes e consumidores que pelo menos ali estão relativamente controlados. E então qual será a solução? Qual a solução para acabar com um negócio de milhões e que mexe com tantos interesses? De certeza que não são debates na televisão protagonizados por algumas sumidades e doutores que analisam o problema de um ponto de vista académico e científico e que nunca na vida puseram os pés nos Casais ventosos que por aí existem. De vez em quando convidam um ex-toxicodependente para dar um ar mais realista à coisa esquecendo-se que nisto das drogas cada caso é um caso. Também não será de certeza a multiplicação de “centros de recuperação” mais ou menos dúbios e que, com algumas honrosas excepções, não passam de pura ilusão que absorvem tempo e dinheiro a quem neles acredita, para já não falar dos subsídios estatais pagos por todos nós.
 Não, eu não sei qual será a solução, apenas sei que ao fundo da minha rua mora a desgraça e a miséria e que algures na Colômbia ou noutra qualquer Colômbia mora um fulano de óculos escuros e roupa de marca, rodeado de riqueza e guarda-costas que exporta morte em pó em impunidade quase total e até com a conivência de entidades e personalidades insuspeitas. É que o apelo do dinheiro não perdoa. Pelo meio ainda existem agricultores pobres e gente que vive do que a terra dá e para quem a plantação de coca ou papoila é de certeza mais rentável do que o milho ou o arroz. E assim que se lixe a justiça e o bem-estar social. Vendemos as nossas almas, e as dos outros quando necessário, ao Deus Dólar (ou Marco, ou Libra, ou Escudo, tanto dá...) e quem vier a seguir que arrume a casa.
Onde está a justiça para onde pagamos impostos? Será que é só para alguns? Aqueles que não têm dinheiro ou que não pertencem a lobbys? Mas também que justiça se pode esperar de um sistema que deixa sem culpados a morte aflitiva e brutal de duas crianças sugadas por um tubo numa tarde de sol e piscina.
E entretanto o Casal Ventoso lá vai continuando á espera da tal entidade divina que se preste a vir cá abaixo resolver os males do mundo. Pode ser que seja para o ano. 
Esta crónica é dedicada ao Ricardo, meu amigo, morto aos 25 anos no Casal, devorado pela droga e pela incapacidade de viver nessa realidade suja que não queria e onde caiu sem que até hoje se percebam as razões.  

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas!

terça-feira, 16 de agosto de 2011


Ainda não decidi se sou a favor ou contra as touradas. Por um lado acho que é um espectáculo com uma forte componente estética e visual, de emoções à flor da pele e tradições centenárias. Por outro lado acredito que é também a apologia da barbárie no seu melhor. A morte e o sofrimento gratuitos, apenas para o divertimento de quem vê, sempre me repugnaram. Sim, eu já me alimentei de lagostas cozidas vivas (um argumento usual nos a favor), mas as lagostas e bicharada semelhante têm apenas um sistema nervoso rudimentar com a consequente falta de sensibilidade à dor. De qualquer modo acho que é um mau princípio justificar-se um sofrimento com outros.
O facto é que as touradas ultimamente estão na boca do mundo muito por culpa do caso de Barrancos. As opiniões dividem-se em contra e a favor, com uns quantos, eu e a classe política deste País incluídos, os que não são nem aficionados, nem membros de organizações de defesa dos direitos animais, nem toureiros, nem touros, perdidos numa espécie de limbo de opinião acinzentado em que dependendo de alguns factores pendem mais para um lado ou para outro. Esses factores são:
-         Serem carnívoros ou vegetarianos
-         Terem ou não tido animais de estimação em pequenos
-         Gostarem ou não de Hemingway
-         Opinião pública predominante na altura (só para politicos e pessoas fracas, sem opinião nem  
           personalidade)
-         Grau e tipo de frustrações pessoais (casamento, trabalho, saúde, infância, etc...)
-         Educação
-         Etc..
Na verdade a tourada é um espectáculo de e para bárbaros. Mas o homem é ainda um animal bárbaro com um verniz tecnológico e civilizacional que consegue por vezes fazer esquecer esse facto. Ainda precisa de divertimentos rudes e brutais (já alguma vez observaram meia dúzia de mamíferos sentados num sofá a beber cerveja e a ver futebol aos berros..) porque a própria vida ainda é brutal.
No caso especifico de Barrancos eu pessoalmente não vejo grande diferença entre espicaçar o touro até á exaustão e mata-lo depois, às escondidas, ou mata-lo logo ali. E ninguém duvide que até á tourada aqueles touros têm uma vida santa, rodeados de vacas e pastos verdes onde são reis. Uma vida de certeza melhor do que a dos infelizes parentes criados para nos servirem de comida que passam metade da existência enfiados em cubículos, alimentados  à base de rações abjectas e que para finalizar são acumulados em camiões e transportados para matadouros, onde têm o privilégio duvidoso de se observarem uns aos outros a morrer. Isto para não falar dos aviários. Sim, as touradas são brutais, mas não mais do que a condução de certos energúmenos que fazem das estradas arenas onde eles são os bois e tudo o resto panos vermelhos. Violentas mas até suaves se comparadas com certos filmes ou desenhos animados ditos para crianças.
No passado lançavam-se humanos às feras (ainda se lançam nalguns lugares tipo Ruanda ou Assembleia da República) para divertimento de quem assistia. Hoje temos futebol, touradas e guerras em directo na televisão. Um dia nada disto será necessário mas a verdade é que ainda não chegámos a esse estágio da evolução humana.
Entretanto eu ainda não decidi se sou a favor ou contra as touradas.  


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Vejo aquilo que se passa em Londres e pasmo. O que se passa na cabeça das pessoas hoje em dia? Quer dizer, revoltarmo-nos por uma causa, com uma razão concreta, sem mais saidas, faz todo o sentido para mim. Agora só porque sim? Porque se é jovem e estouvado?. Porque se acha que..? Violência pela violência, nada mais. Eu vivi muita ao longo da minha vida. A suficiente para saber que raramente faz sentido. Como agora neste caso, em que se pilham pessoas inocentes porque se está chateado com a vida. Mas que merda é esta, trabalha-se a vida toda, monta-se um pequeno negócio, ou compra-se um automóvel, coisas estimadas e fruto de suor, para vir um bando de vandalos e espatifar tudo? No tempo dos vandalos era norma, convenha-se, mas hoje é suposto estarmos num estádio diferente de evolução. Ou não? Quer dizer, sou jovem, vivo nos suburbios, à pala de subsidios, estou descontente com a vida (apesar de usar ténis de marca e ter sempre guita para charros e cerveja), acho que os impostos estão altos e tal (como se tivessem que os pagar..) que o governo não presta (apesar de nunca ter votado) que a situação está má (mesmo que nunca tenha lido um jornal) e pronto. Aproveito que a policia deu um tiro num bandido (mas não é assim mesmo, policia e bandidos não costumam andar aos tiros eventualmente com vitimas? Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele, penso eu...) e ai vou eu mais uns amigalhaços pôr a vida de gente honesta e trabalhadora a ferro e fogo.  E depois vêem umas sumidades para a televisão, falar do descontentamento dos jovens, dos problemas sociais, das familias destruturadas...falta de porradinha nos cornos é o que é. Deixemo-nos de mariquices, o unico argumento contra a chuva é o guarda-chuva. Deixem-se andar que qualquer dia são todos comidos.

domingo, 7 de agosto de 2011

Dá gosto ver que ainda há malta que consegue mover mundos e fundos, enfrentar contrariedades e maldicências, velhos do Restelo e bota abaixos, falta de dinheiro e de estímulos, más vontades e invejas, para levar a cabo iniciativas que fazem este país crescer mais um bocadinho. Nomeadamente no sector cronicamente subalternizado das artes e cultura. Falo, como não podia deixar de ser, da "Maior Exposição do Mundo" (assim mesmo, tudo em caixa alta). As fotografias  da Cátia Alpedrinha , da Cinda Miranda, do Eduardo Gageiro, do Emanuel Gonçalves, do Greg Marinovich e do João Silva,  do Humberto Sarmento, do João Carlos, do José Carlos Nascimento, do Kadir, da Luísa Ferreira,  do Miguel Cabrita Matias, da Mónica B, do Simon Frederick, da Sonja Valentina, o espólio da Família Vasco Morgado, entre muitas outras imagens (incluindo deste vosso humilde escriba), vão estar desta vez patentes no Funchal, para que mais gente possa usufruir delas. Para o ano espera-se mais e ainda melhor na edição 2012. Fotógrafos e amantes de fotografia, ponham os olhos nisto, apoiem e incentivem projectos que são de todos vós e para todos vós. A fotografia agradece.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Avizinham-se mais medidas de austeridade, nas palavras austeras (redundância eu sei..) do nosso piqueno (assim mesmo, com i) ministro das massas. Pá porque não apontam de uma vez uma arma ao pessoal e se limitam a dizer "passem para cá a guita"?? roubar por roubar sempre era mais honesto. Sim eu sei que é necessário equilibrar as contas, cumprir o déficit e outras coisas que tais, mas bolas assim não dá. Quer dizer, a malta trabalha, trabalha, trabalha e depois vai a ver e carteirita sempre vazia.. mas vale a pena? convenhamos o que tá a dar é aderir à tribo do subsidio-dependente, faz-se pouco ou nenhum e tem-se a compreensão e o apoio do querido Estado - à pala aqui dos otários como é obvio. Alguem tem que pagar as contas. Começo a ficar cansado, muito cansado, que me vão ao bolso e nem peçam licença. O sistema não dá? mude-se. Metam os calinas a trabalhar, há ai muita terra por lavrar... subsidios e apoios só para quem não puder mesmo subsistitir de outra forma (deficientes, velhotes sem fontes de rendimento e por ai). Hoje estou assim, pronto.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Acabaram as aulas, agencia em slow down com as férias judiciais e politicas (enfim, estas a meio gaz), tempo para pensar em novos projectos e descansar um pouco. O fotojornalismo está em crise? pode ser que sim, mas o foto-documental, o documentário video e fotográfico ainda é um bom caminho a seguir, nem que seja pelo gozo que dá. Ainda há ai muitas histórias para contar, com jeito até se arranjam suportes para as mostrar e com ainda mais sorte até pode ser que paguem para as despesas...paralelamente "A maior exposição do mundo" vai para a Madeira (prova de que as boas ideias têm mesmo asas para voar) e com ela as minhas fotos. Ainda há muita coisa por fazer de facto, its a big world out there. Aceitam-se boas sugestões..

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Parece que o jornal I, um dos poucos bastiões do fotojornalismo como deve ser cá no nosso burgo, acabou de "correr" com os fotografos que faziam a casa: a Céu, editora, e por arrasto o pessoal da Kamera. E assim vai o NOSSO mundo, a qualidade, lentamente, perdendo terreno para o barato. Que interessa a quem paga ter bom, quando pode poupar dinheiro? Esta é uma das perguntas das quais depende o futuro da profissão, não duvidem. Ainda vai havendo quem tente lutar a causa justa, quem tente praticar e editar e ensinar Fotojornalismo com F grande (F esse pudendo aplicar-se noutras circunstâncias, também relacionadas, enquanto desabafo...), quem não se esqueça que grandes imagens fazem a história e que esta não reza dos fracos, mas já são poucos e também têm contas para pagar - Sim, somos produtores de conteúdos, mas de conteúdos com alma, criação nossa, olhar que de cada vez é unico.. Longe vão os tempos da luta de Capa e companhia para melhores condições para a fotografia - os tempos são de retrocesso e a fotografia é o elo mais fraco no mundo do jornalismo que hoje se pratica. Não desistam. Não baixem os braços. Façam sempre o melhor que puderem. Ainda somos os olhos do mundo.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ok, já percebi que isto está mal. Que por muito que trabalhe, nunca vou ter dinheiro suficiente. Que vou andar sempre amargurado com a profunda injustiça que é sustentar chulices de gente que nem sequer conheço. Que vivo rodeado de mentirosos, de débeis, de corruptos, de malandros de toda a espécie. Que o futuro é negro e cada vez mais negro (e nem sei se ele existe). Que a moral é baixa e cada vez mais baixa. Que a justiça é um mito e a liberdade uma força de expressão. Mas macacos me mordam se me deixo derrotar. Esta é a minha terra e têm que ser muito mais Homens (isso, com H grande) para me tirar daqui - o que não são. Não, não fujo. Não me vou abaixo. Não desisto. Aqui o Sol brilha e é meu. Há dias assim, em que tudo nos parece profundamente inútil. Mas depois acordo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ultimamente tornei-me numa espécie de magneto para imbecis - de vez em quando tenho uma fase destas..aquelas pessoas, que não sendo capazes de se erguer da mediocridade, preferem puxar os outros para o seu nivel: para baixo portanto. Ou aqueles que, frustrados e reprimidos, não perdem ocasião para exercer o pequeno poder de que podem dispôr. Ontem uma criatura destas, 1,50 de imbecilidade barbada, quis-me expulsar (!!) da Sé Catredal. Menbro da organização dos casamentos de Santo António, passou o tempo a empurrar e a destratar os jornalistas presentes porque todo o espaço vital pertencia à RTP (paga por mim, por todos nós, como o raio dos casamentos e até o ordenado do espécime..). Ninguem levantou cabelo, como de costume, a não ser aqui o presente. A coisa não azedou mais, porque uma colega dele, mais inteligente e conciliadora, lá me foi "passando a mão pelo pelo". Antes de ontem foi a vez de um outro personagem me perseguir com as suas razões fotográfica, insistindo que determinadas fotos que eu fiz, deviam ter sido feitas de outra forma. E insiste nisso, de forma desagradável e mal-educada, até hoje apesar de eu lher ter tentado explicar, por A mais B, que não puderia ser. Mas pronto, ele, sentado lá na sua cadeirinha (onde provavelmente vai permanecer o resto da existência), é que sabe.  Se há coisa que a experiência me ensinou é que não adianta argumentar com quem só se houve a si próprio. A arrogancia dos mediocres não cessa de me espantar - e acredito piamente que Portugal é o que é, por causa disto: não temos humildade para ouvir e reconhecer a opinião dos outros, mesmo quando carregada de razão. Temos medo de ideias novas, de que possam ser melhores do que nós. No fundo ainda somos os Velhos do Restelo. Disse somos? Perdão, são. Eu luto todos os dias por ser melhor.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

a minha exposição àDeriva está a partir de hoje no Casino de Lisboa. Para quem não viu, faz favor, para quem já viu se quiser rever....aproveito para re-anunciar a minha outra exposição no Terreiro do Paço - uma boa ideia para um passeio de Domingo à tarde, exposições por Lisboa fora (info em expolisboa2011.com). Have fun

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Gosto da minha exposição no Terreiro do Paço. Gosto sobretudo de estar ao lado do Kadir, do João e do Greg. E de participar num evento que devolve a fotografia a Lisboa. Passem por mim no Ministério da Finanças : )

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ás vezes sinto-me outro. Alguém diferente, mais forte, honesto e decidido, mais corajoso e frontal, mais dinâmico e sensivel.



Alguém que diz as palavras certas nas alturas certas, que sabe o valor real de palavras como amizade ou amor.


Alguém que luta as lutas justas e que abraça as causas mais nobres, sem medo, com convição.


Alguém que quando morrer será após uma vida cheia, útil, completa.


Mas depois sou só eu.


Apenas e simplesmente eu.


E a força transforma-se em fragilidade, a nobreza cede á realidade, ao cinismo, á fatalidade de estar vivo e, como os outros, ter de viver e para sempre sonhar que ás vezes sou outro.


Mas não sou.


Talvez e apenas humano, demasiadamente humano.


Condenado á humanidade e por isso longe de ser outro. Aquele que eu quero ser. Que ás vezes sinto ser. E por isso sou.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Expo lisboa 2011"A Maior Exposição Fotográfica do Mundo" já a arrancar por um pouco por toda Lisboa. Exposições para todos os gostos e feitios um leque variado de fotógrafos e estilos, e eu feliz por participar. Duas exposições, "àDeriva", no Casino de Lisboa, e "Todos os Mundos Cabem Ali", nas arcadas do Terreiro do Paço a partir de 5 Junho. Convido todos, amigos, conhecidos, amigos de amigos, menos amigos, curiosos e passantes a irem ver. As minhas e as outras. A fotogafia ainda vai acontecendo por aqui.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

http://www.globalpost.com/dispatch/news/regions/africa/110519/libya-journalist-death-anton-hammerl-james-foley-clare-gillis

É quando vejo estas noticias que me lembro mais do meu próprio percurso. E do que não aconteceu. Será que vale a pena? Cada um de nós terá uma resposta, e todas são válidas, mas uma verdade é permanente: as guerras dos homens são sujas. Paz.
dizia um senhor daqueles na televisão que os portuguese se queriam ter plasmas e ir para a Costa da Caparica de carro, teriam que produzir mais e gastar menos. Concordo. E sugiro que e o senhor e os amigos dele dêem o exemplo: a partir de agora deviam deslocar-se sempre de transportes publicos, como o resto da malta. Ali apertadinhos, suados e atrasados puderia ser que finalmente percebessem...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Vi um filme. E às vezes os filmes que vejo deixam-me a pensar. Normalmente na técnica envolvida, a fotografia, a luz, a composição... Ocasionalmente também a história, mais raramente uma mensagem, uma ideia que fica adormecida lá num canto do meu cérebro, até que um dia, por efeito de um qualquer estimulo, BANG - vem à tona com a velocidade de um comboio-bala japonês.
Desta feita no filme em questão (bom, mas não relevante para esta prosa), há um momento. Nesse momento, uma rapariga nova, bonita e tatuada, aparentemente padeira / pasteleira, afadigava-se à volta da massa no seu restaurante / pizzaria. Ao mesmo tempo conversa com o protagonista, que está em missão de auditoria às contas da jovem. Ao que parece e esta é a questão central, ela só pagou 78 % (reparem, nem 50 nem 80, exactamente 78) dos seus impostos. Porquê? Porque explica ela, a restante percentagem é empregue em propósitos que não concordava. No caso era a Defesa Nacional, armas portanto. Para o resto, saúde, educação, etc, já não se importava de contribuir..tudo solidamente sustentado em contas irrefutáveis. Vi, pensei que de facto fazia sentido,guardei e não pensei mais no assunto. Até que um destes dias, a juntar continhas para levar ao senhor que me trata do IRS,  BANG, ai vem o comboio-bala - porque diabos hei-de eu pagar impostos para coisas com as quais não concordo, não pedi, e que são de um modo geral ofensivas para quem tem que as pagar? Carros de luxo e respectivos motoristas, viagens em primeira e jantaradas opiparas, reformas douradas, corrupções várias, cartões de crédito sem limite, Fundações e Institutos de que nunca sequer ouvi falar, jobs e mais jobs para boys e mais boys, vergonhas sem limite e muitas vezes sem cara, e mais e mais e mais....tudo somado qual a percentagem disto nos meus impostos? Eu diria à vontade uns 70 a 80%..E se assim de repente eu não pagasse essa fatia, sustentado-me no que disse acima? Provavelmente, seria preso, arrestado, chicoteado em público, sei lá...mas e se assim de repente TODOS os portugueses com vergonha na cara e dinheiro contado ao fim do mês, fizessem o mesmo? BANG.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

sábado, 14 de maio de 2011

Penso que este ano vai ser de facto um grande evento. Penso também que há-de haver por ai uns quantos a roerem-se..

domingo, 1 de maio de 2011

"Todos os mundos cabem ali”


O Libano está ao lado de Israel onde também fica a Palestina. Israel e o Libano estão há muitos anos num estado de guerra latente, que de vez em quando degenera em conflitos violentos, palestinianos e israelitas disputam desde sempre as mesmas terras e também muitas vezes se chocam violentamente. No Libano há centenas de milhares de palestinianos amontoados em campos de refugiados, sem direitos e sem esperança. O libano era em tempos a Côte de Azur do Médio Oriente e, ainda hoje, a beleza fisica e o apelo deste pequeno país são evidentes. Israel é a Terra Prometida, local de peregrinação, devoção e culto, mas também de modernidade e civilização regida por padrões ocidentais  A Palestina vive dividida, encerrrada e amargurada, mas nas águas azuis do mediterrâneo que banham a Faixa de Gaza, espelha-se a convicção  num futuro melhor. Depois há o Hezzbollah no Libano, o Hamas e a Fatah em Gaza e várias outros movimentos politico-religiosos de menor expressão, todos com uma agenda própria que nem sempre ajuda à estabilidade desta região conturbada. No Libano há cristãos e muçulmanos e xiitas e sunitas e druzos e ateus e muito ricos e muito pobres e mini saias e véus que só deixam os olhos à mostra. Em Israel vivem todos os deuses, hippies pacifistas e pais de familia de pistola à cintura, dance-parades, movimentos gay e armas atómicas. A palestina tem uma das populações jovens com o maior grau de educação em todo o mundo árabe, a par com extremistas islâmicos que apelam à destruição, túneis por onde passam clandestinamente armas e bens essenciais e blogues que ligam ao mundo inteiro. Em cada uma destas nações existe hospitalidade, delicadeza e lucidez, mas também o fundamentalismo mais cego. Luz e escuridão. O Mundo, afinal.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Custa-me um bocado ver quando o trabalho dos fotojornalistas, que são autores, que são criadores, é tratado como um conteudo apenas para encher jornal. Custa-me ver fotos com o nome do autor tão pequenino que mal se lê - os redactores têm quase sempre mais destaque porquê? Custa-me ainda mais quando nem sequer vem o nome, ou quando o nome é trocado, como se não tivesse nenhuma importância. Custa-me que ninguem, dentro daqueles com responsabilidades, tenha pelo menos a atitude de dizer alguma coisa, qualquer coisa. Custa-me ter que me convencer que afinal o que interessa é ganhar dinheiro, ganhar a vida, que se lixe o nome, que se lixe a autoria, que se lixe o orgulho criativo. É só trabalho. Afinal é nisto que nos tornamos, dia após dia: peças de uma máquina que nos mastiga e cospe sem sequer dizer obrigado. Amo o que faço, mesmo quando me sinto desiludido e desencantado, e sei que podia ser diferente. Melhor. Às vezes obrigado, ou desculpa, ou tens razão basta.  

segunda-feira, 28 de março de 2011

http://www.expolisboa2011.com/
aqui está em nova edição, maior e melhor, para quem gosta de fotografia. Eu vou participar e apoiar com muito gosto
Um dia ainda hei-de perceber esta malta da  bola. Quero dizer os adeptos. Quero dizer, AQUELES adeptos. A malta que ou não tem nada para fazer, ou não quer saber, e passa os dias no estádio a discutir o sexo dos anjos. Esses que no passado Sábado estiveram até às seis da manha lá, em Alvalade, à espera dos resultados das eleições, tão importantes para o futuro da humanidade em geral e deles em particular..Quero dizer, eu gosto de futebol, e até sou sportinguista, mas há limites para o ridiculo. Essa malta, que em geral prima pelo pensamento profundo e pelo entendimento das coisas, quando a vida não lhes corre de feição apontam o único neurónio para o alvo mais óbvio, os jornalistas pois claro, culpados de todos os males, raça dos infernos, e ai vai disto, pedrada, pontapé, petardos, tudo vale para eximir as frustações de serem quem são. Juro que ouvi um (com ar de intelectual pré-histórico) a dizer com os olhos voltados para o céu enquanto pontapeava um gradeado: "mas Deus não vê isto..."!! (referindo-se aos resultados da eleição). Deus? mas será que ele acha mesmo que Deus a existir não tem mais que fazer do que preocupar-se com as eleições no Sporting? Penso que a pia criatura, imbuida de extrema religiosidade, naquela hora dificil da sua existência e em falta de jornalistas por perto decidiu apelar para o Criador (adepto do Sporting como todos sabem) a ver se ele corrigia tamanha injustiça. Depois foi lançar petardos.

quarta-feira, 23 de março de 2011

"If you can imagine yourself doing anything other than photojournalism, don't become a photojournalist. It's a difficult profession that demands total commitment" -
Peter Howe

  A humanidade já passou por muitas ameaças - não poucas das quais, iguais à que enfrentamos hoje. Epidemias e pandemias são recorrentes na ...