sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

É Natal. E o Natal traz-me sempre recordações de outros tempos e outras pessoas. Muitas vezes motivadas por coisas que vejo à minha volta, algumas que preferiria não ver - um miudo morreu no hospital por falta de assistência médica (já não há Natal para ele e para os dele). Por falta de médicos disponiveis ao fim de semana para o operar, porque, ao que parece, não há verbas para isso. Claro, a culpa é do governo e das finanças. O dinheiro, sempre o dinheiro, os politicos,sempre os politicos. Não. Lamento mas não. O meu avô, que foi também meu pai, era médico numa Sertã de há muitos anos e outros tempos. Todos os dias, todas as noites, de verão e de inverno, com chuva e com sol, semana e fim de semana e férias e tudo, sempre que lhe batiam à porta em busca de auxilio, ele lá ia, serras fora, de burro ou a pé, acudir a quem precisava. Quantas noites eu não acordei de madrugada, com as batidas na porta, com as vozes e o barulho, apenas para o ver ir, maleta na mão, sono nos olhos. Era pago em géneros, em galinhas e ovos, em gratidão, nunca enriqueceu, teve o primeiro carro aos 60 anos. Era assim, dedicado, empenhado, devotado ao juramento de Hipócrates e às gentes que dele precisavam. Hoje ao que parece os senhores doutores só trabalham movidos a notas. E muitas que não se quer cá misérias. E há sempre um governo de malandros com costas largas, para arcar com as culpas dos mercenários. Vão-se mas é todos F$#%%$ pá, que não vos roa a consciência. Para aquele miudo e para os dele já não há Natal. No meu morará o meu avô para sempre. À tua memória.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Não acredito em máscaras. Apesar de ao longo da minha vida profissional, ter por vezes lidado com algumas, parte delas por acreditarem que assim defendiam a causa justa, da maneira certa, não as acredito. A coragem verdadeira, a convição pura, implicam dar o peito e o rosto, a alma. A boa luta é feita do sacrificio assumido, do esta é a minha causa e aqui estou eu, que o digam Cristo, Ghandi, Mandela. A máscara significa que não se acredita totalmente no que se defende, que no fundo se tem medo, que não se quer enfrentar as consequências dos actos. Os heróis verdadeiros não usam máscaras. Os outros são banda desenhada.
Esta coisa da Black Friday reflecte bem tudo aquilo que nós somos. As cenas de loucura e violência, inclusive com mortes nos USA, são o retrato fiel da sociedade em que nos tornámos, ou deverei dizer, nos tornaram... Ter em vez de ser. Tudo isto é deprimente, infeliz e miserável. Quando vejo imagens de gente que se acotovela e esgatanha por causa de "coisas", que lhes fazem tanta falta como pulgas a cão, só me lembro da Amal, a menina que morreu de fome no Yemen, lembram-se, e de todas as outras Amal que ainda há por ai. Tenham vergonha.
Senhoras e senhores do meu FB: Esta é uma publicação importante. Tem a ver com o facto de não nos podermos calar perante o que está errado. De apenas olharmos para o lado. De tantas vezes comermos e calarmos. Aqui há um tempo, entre gente da minha terra (Sertã) circularam publicações sobre descargas poluentes na Ribeira do Amioso, uma das duas que banham a Vila. Um cenário que aparentemente se repetia e que periodicamente "brindavam" aquele curso de água de uma espuma nojenta e vil. Teria que vir de algum lado é certo, de onde, ninguém parecia saber. Perante esses factos apresentei queixa formal nos serviços competentes da GNR. A resposta veio rápida e a eles deixo aqui, de forma pública, o meu agradecimento e respeito. Transcrevo parte: "o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR (SEPNA/GNR), através do Núcleo de Proteção Ambiental do Destacamento Territorial da Sertã, deslocou-se ao local visado, verificando a veracidade dos factos denunciados, relacionados com a descarga de águas residuais". O resto fica agora nas mãos das autoridades competentes. Só um recado a quem fez isto (a poluição das águas que banharam a minha infância) - Chamo-me Angelo Lucas, sou jornalista com Carteira Profissional, nº1851 A, e irei denunciar, publicar e apontar SEMPRE que souber de um atentado destes contra o património de TODOS nós. Esperam-se cenas dos próximos capítulos.
Através da MSN, cuja página abre sempre nos novos separadores do Edge, chego à noticia da RTP da morte do jornalista saudita Jamal, na embaixada do seu país na Turquia. Até aqui tudo bem. Começa a ficar menos bem, quando antes da informação propriamente dita sou obrigado a assistir a um anuncio de não sei quantos segundos de um qualquer produto para cães...quer dizer, eu sei que a malta tem que viver e tal, mas anúncios para cães antes da noticia tremenda sobre um jornalista torturado, morto e desmembrado não vos parece um bocadinho excessivo? Já nada é mais importante que o lucro? Que raio de sociedade é esta onde, assim num folego se anunciam cenas para mascotes e depois se relata um assassinato? Tudo junto, tipo aqui tem a melhor comidinha para o seu bobby e já agora sabe que este fulano foi torturado até à morte? Tá tudo doido gente, stop the world, I want to get out.
Através de várias publicações aqui, mas também noutros meios e conversas avulsas, percebi que as senhoras, hoje em dia, já não querem ser tratadas por princesas ou queridas (entenda-se que falo de tratamento por parte de quem se conhece, não de bocas de rua). Acham sexista e pejorativo. Entendo e respeito. Aproveito para dizer que não tenho nada contra ser tratado por principe ou querido. 
Acima de tudo, sou um fotógrafo. Por isso sei que os meus camaradas de armas entendem esta angustia que agora me assalta - quando de repente percebemos que temos milhares e milhares e milhares de imagens, que apenas estão ali. A maior parte nem nos lembramos. Algumas foram usadas ou mostradas uma vez, outras nem isso. Foi o click, o momento, aquele êxtase de pararmos o tempo numa fracção de segundo, numa memória que não se repete, depois o limbo é o seu destino. Umas, muitas, em pelicula, mais ainda em digital. Milhares e milhares delas. Ali paradas a desafiar-me. Desafiar-me para quê? Quero digitaliza-las, organiza-las, cataloga-las, mas a escala da tarefa paralisa-me. E o tempo cada vez mais curto. Qual será o seu destino? Quando eu for, permanecerão? E aqui estou pasmado, a olhar para elas e a escrever isto. Mãos à obra pá, mexe-te. Ou talvez não.

  A humanidade já passou por muitas ameaças - não poucas das quais, iguais à que enfrentamos hoje. Epidemias e pandemias são recorrentes na ...