segunda-feira, 5 de março de 2012

Então a coisa é assim: Já quase me tinha esquecido, quero dizer, nunca esqueço, mas de vez em quando consigo, hummm, atenuar...chamo-lhe o Sindroma de Capa. A história conta-se em duas penadas, Robert Capa, quando cobriu o desenbarque na Normandia, coisa pouca como se pode imaginar, enviou os rolos de fotografias sofridas, para revelação e impressão às mãos de um jovem assistente. Este conseguiu destruir a maior parte das imagens. Imagine-se o que se sente sendo o fotógrafo. Imagine-se? Eu consigo vive-lo. 
Quando vim do Iraque, em Abril de 2003, depois de mais de um mês de guerra intensa, tive também a grata supresa de ter grande parte das minhas imagens destruidas, às mãos do laboratório onde as mandei processar. Aquele ali nas arcadas do C.C. Libersil, ali para os lados da Av. da Liberdade, conhecem? Creio que agora se chama CompletView... foi tão dramático que até queixa no Diap eu fiz, com os resultados esperados - nada. Afinal era a minha palavra contra a deles. Curiosamente nem todos os rolos (eram todos, da mesma marca e modelo) foram massacrados. Apenas aqueles perto da altura da queda da estátua do Sadam, na Praça do Paraiso, recordam-se?
Sem querer parecer picuinhas, eram de facto as imagens de cariz mais delicado; como as do episódio que narrei aqui, no post anterior e outras, como de uma vez em que entrámos no aeroporto de Bagdad, quase sem o querer, ainda fumegante dos combates, muito antes de ser dada autorização aos jornalistas para lá puderem entrar. Curioso não é? Altura das teorias da conspiração: todos os locais na Europa e EUA que trabalhavam, ou se relacionavam de perto, com jornalistas, na altura da guerra, eram vigiados de perto pelos serviços secretos. Razão - prevenir a divulgação de imagens ou informação que pudesse ser contraditório (lindo) ao esforço de guerra. Vamos lá a ver, no meu caso, imagens que provavam o massacre de civis inocentes (e logo às centenas) no fogo cruzado, podiam ser pouco benéficas para as potências empenhadas em levar a luz, sob a forma de porrada, aos povos bárbaros do Oriente. Afinal quantos danos colaterais se podem justificar, não é verdade?
Também se pode ter dado o caso de o próprio laboratório, por incuria, ter destruido aqueles rolos. Mas bolas, é (era?) gente profissional que trabalhava com profissionais, certo? Ou não?
Argumento 1 do laboratório na altura - "alguem lhe sabotou os rolos"..não senhores, os rolos dormiam comigo, comiam comigo, até iam à casa de banho comigo.  E porque iria alguem sabota-los? Logo aqueles, que ainda dentro das bobines, não se destiguiam dos outros..Argumento 2 do laboratório na altura - "raios x no avião"...certo, os raios x no aeroporto até são selectivos nos rolos, lixam uns, mas poupam outros, exactamente iguais. E os raios x não velam completamente a pelicula, poupem-me...
E porque raio decidi voltar a este assunto passado tanto tempo. Porque me lembrei e fiquei lixado, uma vez mais. Porque ainda guardo as peliculas, lá em casa, fantasmas de coisas que eu sei que vi, e vivi, mas não posso provar. Porque digo-vos, eles andam ai...porque aconselho-vos, evitem aquele laboratório, ninho de incompetência e irresponsabilidade (vá, processem-me). Porque pelo menos agora, tenho uma tribuna onde posso expor os meus casos. Porque, às vezes, ainda, quando penso no caso, só me apetece gritar. E então decidi calar os gritos e transforma-los em escrita.

4 comentários:

  1. Através da história, tem sido a inactividade daqueles que poderiam ter agido; a indiferença daqueles que deveriam saber melhor e o silêncio da voz da justiça quando ela mais importava que tem tornado possível ao mal triunfar."
    Hailé Selassié

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  2. Lembro-me tao bem desta história! Estou sempre a contá-la.... e ainda me dá raiva!

    Beijinhos

    Sofia (sis)

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    Respostas
    1. Imagina eu querida, que tenho os rolos lá em casa só para me lembrar que os fotografei...

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