quarta-feira, 12 de julho de 2017

  1. A senhora vinha sentada ao meu lado, no metro. Ao meu lado e ao lado das outras dezenas de pessoas, como nós, que àquela hora enchiam a carruagem. Um sitio pouco adequado (penso eu que sou um gajo antigo..) para conversas de cariz, digamos mais pessoal. Isso não a coibiu no entanto, de nos incluir a todos na sua intensa e furiosa discussão, com quem quer que se encontrava do outro lado desse aparelhinho destruidor de privacidade que dá pelo nome de telemóvel. Nada contra ele,... que até acho prático e muito útil, desde que usado nos limites do bom senso, algo que anda completamente arredado da vida nas sociedades modernas. Já nada é privado, neste tempo em que o Big Brother deixou de ser uma ficção de futuro, para se instalar no nosso dia-a-dia. Foi no entanto uma salutar distração na longa viagem de Telheiras ao Cais do Sodré. Salutar e educativa em mais do que um sentido. A senhora em furia debatia com o que se supõe ser o ex-companheiro/marido/namorado, a custódia de uma suposta filha. E os termos eram estes: "Mas está a ser mal educado porquê, eu sei que não tem educação, mas não me está a ouvir manda-lo F&%$$ e para o C%&&$ pois não?" (isto repetido pelo menos 3 vezes aos gritos); "Estou-me a cagar! de alto para o que você quer seu mal-educado" (igualmente repetido várias vezes, num tom daqueles que se ouve por cima do barulho do metro..) e ainda vários "não, quem desliga primeiro sou eu.." (ele desligou primeiro..). Pobre criança com uns pais destes. Pobre sociedade, que anda reduzida a isto. Pobres de nós, que amámos um dia a ponto de gerar vida, apenas para terminar imersos em ódio e ressentimento. E assim vai a vidinha.

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